4.7.11

2.520 days.

                                                      Para o meu eu que fantasia, 
                                                        que não seja um sonho tão amargo.


Parado na sacada da porta, afundando os coturnos encharcados de água no tapete seja bem-vindo, conferia o endereço nas mãos trêmulas, com os dedos pulsando à centímetros para tocar a campainha.. Olhou ao redor e viu-se no centro daqueles girassóis por entre potes, encima da sacada que separava o portão de madeira, parecia ser verdadeira mesmo, era uma casa bonita, convidativa, desconhecida para ele. O estômago pesava quanto mais acreditava ser o endereço certo, a garganta começava a faltar saliva para umedecê-la, e sentia que não conseguiria dizer nada, apenas apertar a campainha já depois de tanto tempo e sair correndo, como aquelas crianças que entram em fase de achar divertido apertar a campainha dos vizinhos e sair correndo. Então resolvu acreditar que era realmente o endereço certo- convicto de esperanças e medo e felicidade e sabe mais o quê, apertou a campainha. 
Sem demora, ouviram-se passos lentos e opacos em direção à porta, sem dizer nada, nem perguntar quem era, apenas vinha. A porta abriu-se um pouco, e era possível ver de novo aqueles olhos tão castanhos cor de madeira, que na claridade do crepúsculo que se fazia, era possível ver as linhas castanhos em torno da pupíla, que agora o fitava sério. Por algum tempo ficaram assim, se olhando sérios, talvez não diriam nada - mas se ela realmente fosse quem tinha sido naquele tempo, correria e o abraçaria daquele jeito tão doce que era só dela, diria: nossa-que-surpresa-você-aqui-jamais-imaginei-que-um-dia-viria, talvez com um perfume próprio e doce, somente dela. Mas já não era mais tempo de doçuras ou abraços ou saudades - então ficaram bastante tempo assim, olhando-se.
Ele percebeu nela, que estava totalmente diferente e muito mais bonita, que carregada um ar de nada - compreende? O olhava e só, nem surpresa, nem assustava, nem triste. Uma moça bem bonita de cabelos curtos, pele bem mais clara por culpa da falta de sol, os cabelos castanhos loiros - mesma cor, só que bem mais curtos e muita, muita magreza. Será que tinha continuado aquela dieta? Tinha sim, nunca a largou. Em silêncio, se sentia incomodado (logo ele?) e então pensou em dizer algo como te procurei ou olá, ou estava-passando-por-aqui-e-achei-que-seria-bom-te-ver. Antes que ela fechasse a porta, sabe-se lá? Estava tão (in)diferente. 

2 comentários:

  1. O melhor texto q já li na internet.
    Não gosto de ler, mas esse texto me prendeu, muito interessante, com um final vago que ainda não entendi direito, mas, o texto é bem legal.

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