1.11.21

Semanas

 Do cheiro da manhã com sua pele ao calor do seu corpo à noite; sinto a coexistência de nós no mundo. 

Como Solange fica quando dorme em algo confortável, seu colo.

Do café com sabor exato e medido para mim, logo após eu te chamar perdida e vezes inconsciente, quando não sinto o cheiro que manhã mistura na sua pele, do meu lado. Aquela devagostenia.

Coisas comuns, rotineiras - que criam lacunas invisíveis na mente, prontas para serem acionadas e encherem de dor caso não as tenha. 

Me sinto engatilhada, ao pesar a mão sobre o seu peito enquanto você dorme e pensar que o que sustenta toda essa macroexistência de cheiros e beijos, toques, risos, choros, gemidos, gozos, orgasmos, pêlos, memórias - depende de um órgão? 

Queria sua imortalidade em cheio do meu peito, ter a certeza e a segurança que nunca mais deixarei de ver suas pálpebras imensas me olhando acalentamente. Mãos grandes demais para o corpo que cobrem minha safadeza e afagam meu corpo que só de perceber a presença: estremece.

Surruros que só eu posso traduzir, me encolho naquilo que não posso garantir para nenhum de nós dois. A vida. 

Elevo aos céus a proteção de nós pedindo tempo, muito tempo para os cheiros, os beijos, os toques, os risos, choros, gemidos, os gozos, orgasmos, os pelos, memórias.....você.

Ao amor que não preciso dizer, mas é tão grande em mim que vaza. 

Como a semana, que independente do que façamos, ela chega. 

Você vem pra mim.

Eu te amo assim, rotineiramente.

5.1.19

Ipanema

Dessa superficialidade talvez você não saiba. Quero te mostrar um pouco de mim que com palavras não consigo, pois me sufoco no imediato do agora e do que preciso dizer e não na profundeza do que realmente sinto. 
Eu penso demais, não acho palavras - não penso nada. E de certa forma sempre me acho meio tola, com falta do intelectual certo... Realmente me faltam palavras pra essa profundeza, já que sempre me perco em mim; há palavras desconhecidas para emoções até para os mais inteligentes? Ou realmente eu sou preguiçosa?
Nada do que digo parece ter sentido ou verdade, eu sei. Minto tanto que perco a racionalidade e isso sempre me deixou meio atrapalhada com quem sou e o que quero ser. Olha, nunca disse que não gosto de quem sou... Pelo contrário, me observo e me percebo tanto que acabo me irritando. Sabe quando você pensa em ser outra pessoa? Sempre me irritei quando não conseguia acompanhar suas histórias, suas falas - sempre me preocupei em guardar todas as memórias e te dar respostas em todo aquele meu pensamento acelerado que não conseguia e te machucava por isso. Acho que já posso falar de nós, não posso? Você só existe por mim, e dizer de mim traz à tona você. Quebramos o gelo.
Só voltei a escrever nessa profundeza de escritas, que parece bonito até, porém no fundo eu acredito ser um suspiro do ponto de quem é quem e porque nascem assim. Por que nasci assim? Só passei a nascer palavras porque mais uma vez parto-me em pedaços e direciono para quem ou o que quiser. Só escrevo quando estou triste e reflexiva e naquele ponto de torna-me outra.
É essa falta de medo de ser quem eu sou que me traz grandes problemas, essa culpa que carrego nas costas de não sei o que, onde me justifico sempre e peço desculpas pra mim. Tenho curiosidades sobre mim que sei que não descobrirei e isso me aterroriza. 
O tudo é o que me compõe, aprecio entender o meu redor e como ele se processa; como se adequar a ele. Até porque não se adequar também é um posicionamento, eu sempre andei esguia nos adequares da vida. Não limitada mas entendida até onde posso ir. Entendida dos meus medos, descobri que um dos meus maiores sempre foi a rejeição: como um animal desesperado, sempre fiz circo para platéia ao meu redor - antes que eles pensassem em me machucar, gostariam de me ver. Era minha chance. Assim fui levando as pessoas e relações, entretanto, tentar ser cansa. Estou em busca do leve.
Digo em busca pois ainda não estou. Encontro-me em um poseidon de pensamentos intrigantes sobre meus próximos passos, sobre minhas rés ; de tudo que deixarei para trás. 
Você está no entorno do que quero deixar para trás, mesmo não sabendo quem sou me entendo um pouco, e o medo de ser rejeitada sempre afastou as pessoas enquanto tentava aprofundá-las em mim, no encanto. Não sei quanto tempo dura, não sei porque ele existe mas você caiu nele. Mesmo não sabendo como conduzir, por não saber nada de mim e se encontrar essa nova coisa todos os dias. Essa mesma coisa que te escrevo perdida e sufocada, estou em busca de quem sou agora e não de ser rejeitada. Óbvio que tenho medo. 
Medo de tudo que deixei de ser e as tornei superficialidade: escrevo um pouco, sei um pouco sobre as coisas, faço rimas e consigo alcançar umas notas com meu canto, toco cabeças, invoco cores, cuido de animais nos finais de semana e feriados. Sei fazer tudo mas ao mesmo tempo sei nada, nunca tive interesse em me aprofundar com medo de ir demais e não saber voltar. Entende o meu desespero? Me aprofundo e recomeço todos os dias, basicamente.
Desespero de fome, não de perda de controle ... Tenho fome pela vida e pela felicidade, sempre acho que não estou aproveitando nada, porém sigo, é o único caminho que me resta e coragem eu tenho, meu bem. Controle do medo, não ausência dele. 
Tenho essa grandeza de emoções, sou uma mulher grande e ninguém me acompanha. Você se envolveria com algo não-humano? Tenho uma amiga psicóloga que diz que não podemos dar diagnósticos, mas eu não sou planetável. 
Não configurada, sem manuais e mesmo assim me deixei navegar em ti. Aprendi a nadar sozinha, tinha te contado isso já? E também sei boiar de lado. Furei todas as suas ondas e depois da vala fria, voltava à beira quente dos teus seios machos e pêludos sem medo de ficar queimada daquele jeito outra vez. O que sei de tudo isso, é que você não deve se sentir superior por um trecho de nosso amor aqui, nesse lugar que é meu. O que te escrevo e sinto, diz mais de mim do que de você, não entende que só está aqui porque plantei sua existência em mim? Só acredito naquilo que vejo e não te vejo mais. 
Só estou sendo mais uma vez.


25.4.17

Existe vida além de você

Eu queria uma fala bonita pra te hipnotizar como há 5 meses atrás eu fazia, quando meu amor transbordava em ti em dizeres de toques e de ações. 
Eu queria aquela viagem que o mar embalava areia em teus crespos 4C , onde podia acreditar que enfim, alguém me amou como eu amei; e eu não precisava mais guardar tanto o que sinto pra não demonstrar fraqueza.
Eu queria a guarda aberta e todos os militares vasculhando juntos sem precisar fazer alarde e assustar alguém, porque não tinha mais ninguém com medo. 
Eu só queria você em todo instante. 
Não era difícil perceber, Denise disse que essa fase de querer também passa; choro 3 dias e tudo volta ao normal. 

E está tudo bem, eu quis muito quando você era nada e hoje eu preciso ser tudo o que eu mais quero. 
Outra vez. 

15.2.17

Itaoka

Hoje dormimos de costas um pro outro.
E tua pele parecia tão distante quanto o Brasil do Japão, o teu calor não me esquentava mais e o desconforto tomou a gente.
Hoje dormimos sem os corpos entrelaçados.
Tu me tocou, eu te toquei - nos sentimos e chegamos ao fim. Dos beijos, abraços, do gozo e de nós.
Chegamos ao fim pois o silêncio invadiu nossas bocas e cada palavra saia mais e mais fraca, cheia de tentativas já cansadas de tentar criar diálogos.
Dormimos assim, separados - quando esse cansaço tomou a gente e não havia mais nada a ser feito - porque acabou; e tudo que fizemos e deixamos de fazer não se era mais esquecido. Tudo vinha à tona.
Outros corpos já haviam nos tocado, outras pessoas nos experimentado é só estávamos ali porque a saudade do passado, costume de nós, abriu nossa guarda. 
E dormimos, à um palmo de distância que mais se pareciam uma vida - e amanhã dormiremos sem um ao outro.
Para sempre. 

26.10.16

O início final

Porque quando tuas mãos me chamam pra voltar, meu corpo todo se inclina em direção à você. Porque quando eu grito para que você se cale e não se vá - teu corpo se inclina a mim. Porque todas as vezes que não quisemos, fizemos. E todas as vezes que não podíamos também fizemos. 
Eu te odeio, porque antes deu sentir esse ódio que dilacera meu estômago eu penso em como você se sentiria se eu dissesse que não quero mais esse dragão com cheiro forte, que transforma tudo em nada e eu fico aqui; varrendo as cinzas para que você se sinta mais feliz em um local mais arrumado para você. Eu não sinto mais vontade que não seja a vontade de te fazer ficar. E antes deu pensar em te falar tudo isso, novamente me importo com todas as coisas que sente e se alguns milímetros desse sentimento atingem alguma camada de algo que possa, enfim, me afetar. 
Eu te odeio, porque antes de desistir - tu novamente vem e quando vem, não hesita em agir daquela maneira que corrompe os bons costumes de qualquer ser humano tradicionalista. Derruba igrejas, associações políticas. Você é a crise econômica que me faz gastar todo o meu dinheiro de investimento, aquele partido de direita que eu pregava o ódio e hoje distribuo panfletos na Leopoldina para aparecer.
Você é guerra dentro do meu amor próprio e quando olho no espelho os vidros se quebram e eu não enxergo nada - até me desesperar e você trazer os óculos com aquele rosto de quem amacia a carne pra depois comer.
Eu te odeio, porque antes mesmo desse sentimento vir eu já te amei tantas vezes e enquanto escrevo sinto minhas veias dopadas do afã que é te enxergar ao meu lado - orgulho, decepção, felicidade e amargura. O equilíbrio total da natureza em meio ao apocalipse, o atentado que une Síria e Estados Unidos. E destrói tudo para que pessoas demonstrem o seu melhor em unificar nações.
E como te odeio, porque esse ódio ao mesmo tempo que me mata, me agrada. Porque quando acordo e meus braços estão prontos pra te enforcar, sinto teus crespos em minha pele outra vez e tudo se desfaz.
Fogo, cinzas.
Eu te odeio porque te amo demais.