29.9.11

Antonia.

  Se tu achas que eu esqueço toda vez que me escondes dessas partes profundas de tua vida, pode esquecendo... Porque sei o que se passa aí, moça. E sei porque você prefere esconder.
  Mas acho confuso esse mistério, dentro desse aconchego que é estar junto - assistir televisão, tomar café erradamente às 12:00 e não se importar se o domingo está prestes a acabar e nem dormimos. Acordar atrasados no outro dia para se estressar com o mundo lá fora; gente mesquinha, ganância, pobreza e a falta de dinheiro para comprarmos o mundo pra nós. Tudo isso, esse estresse, essas dores físicas e emocionas chegam com tua vinda e eu não gosto disso, moça. Logo tu, toda montada de caráter e fortalezas... Barreiras que jamais parecem se derrubar. Talvez um dia alguém seja capaz de ver o que há do outro lado quando você permitir a entrada em teu quarto pela madrugada, deixando que enxuguem o sal molhado que escorre de tuas bochechas fundas de magreza. Mas não sei se me permitirá saber o quanto fraquejas que nem eu, tão fraco e cansado dos dias - das pessoas e suas rotinas que não carregam cor ou simplicidade. Ai, mas desisto logo quanto me tens algo novo para falar.. Quando chega assim, quase caindo de pró-seco no sofá e me conta tudo o que acontece. Como gosto tanto de ti falando por demais.
  Aquelas porradas que tiveram troco ainda me perturbam, eu queria te contar o quanto tenho medo de te perder entre essas minhas jornadas de curiosidade. Sei o quanto o odeia mas não derrube sobre mim essas buzinas e engarrafamentos, mau-humor de clientes e como sempre a falta de dinheiro. Temos tanto a compartilhar oras, quero pizza, sibutramina, domingo e nada de interessante passando na televisão. Quero entrar no teu quarto pela madrugada e chorar teu choro para que tu possas dormir e descansar para a jornada exaustiva do outro dia. E pela manhã, roubar um pouco de teu perfume e te ouvir reclamar, só porque preciso carregar teu cheiro para sobreviver aos dias que já me canso. E assim será, moça. Porque tu és o ouro mais valioso dessa cidade, dessa região, dessa casa.. Dessa casa que tu impõe tanto ser forte, só porque assim sempre foi? Mas me permita ser também, me permita ser tua vida. Tua casa, teu colchão. Tuas asas. Não te deixarei fraquejar que é isso que tanto receia.
  Em conjunto estaremos juntas. Ou melhor, em sintonia.

                                                                                  Antes da sintonia.
                                           Pode sim gostar de fugas, só não fuja de mim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário