20.7.15

Entrenós

Como todas as coisas que singelamente coloco no eterno e finjo, finjo e finjo até por fim ser consumida totalmente pela falsa certeza de que, isso será cotidianamente, pra sempre. Acreditei.
Eu acreditei que ao fechar as portas, você tocaria minhas costas até o amanhecer - que meu café estaria pronto todos os dias na mesa de trabalho e seu cheiro, ah seu cheiro... Esse seria meu pra sempre.
Acreditei que suas melhores gargalhadas seriam minhas até as 19 e depois da liberdade, até o raiar do dia.
Minha segurança estava em suas mãos, meu segredos e aquilo que tenho de mais intimo também era seu.
Eu não tinha medo nem vergonha, só sede.
Sede da sua presença, do seu colo enquanto você me tocava em meios aos meus suspiros tão longos e bons pra você. Sede do seu corpo fervendo em meio aos batidas R&B e sua penetração tão espinhal que eu sentia seus pelos da alma arrepiarem quando os meus arrepiavam também.
Parecia uma música com nosso nome, ela possuía nossos acordes corporais que ninguém conseguiria copiar ou fazer igual.
Tão absurdo isso, que procurei na noite, no dia, em todos aqueles que me davam uma oportunidade de comparar você. E não, não conseguia achar.
Compulsiva, louca como sou - só piorei tentando entender como tu é e como tu fazes essas coisas que me prendem e não me deixam mais ir e ingressar em outros caminhos. 
Sabe quando seus pais dizem pra você não aceitar doce de estranhos e você mesmo assim o faz, porque doce é saboroso e quase impossível de recusar?
Como criança não ouvi ninguém e nem mesmo a mim quando aceitei o doce que me consumia em pedidos, todos os dias e quantas vezes pudéssemos. 
Era fora dos meus conceitos e contra tudo o que acredito, completamente entregue. 
Não me reconheço, essa é a verdade.
Parece que meu canto nem afina mais, sinto que tudo apagou desde que, covardemente, você decidiu tirar de mim a única coisa que eu ainda tinha certeza no eterno pois tudo e todos os passados já se desbotaram e nem existem ou pareciam ter existido um dia e só tinha você, seu cheiro e seu conforto.
Eu não quero me dispersar e deixar de ser eterno nas coisas que lembro, você sabe da minha dificuldade de lembrar as coisas, não sabe? 
Das vezes que te deixei preso fora de casa ou sem dinheiro de passagem, que esqueci de dar banho nos cachorros e até mesmo de dar comida.
Da minha infelicidade de não fazer nada direito e tudo que parece direito também acaba saindo meio torto. Você ria de tudo isso com suas gírias de quem nunca morou em favela mas vivia lá, ria dizendo que eu não existo.
Eu tenho tido cada vez mais certeza de que realmente, nesse lugar onde o cheiro do verde, o cantos dos pássaros e a bagunça dos cachorros são realmente reconhecidas - eu tenho quase; quase..
Falta pouco concretizar a certeza de que nesse lugar eu realmente não existo se você já não está comigo.
Você já não esta mais comigo. 
Acordo de manhã e já não ouço o canto dos pássaros ou sinto o cheiro do seu café coado, muitos menos do seu perfume misturado em três essências distintas mas que encaixam tão bem no seu tom e textura de pele que eu queria conservá-los para senti-los toda vez em que estivesse fatigada de ficar naquela estufa sem fazer nada.
Eu já não percebo sua presença, sabe? Antes era tão óbvio saber que você estava - Bob e Marley dormiam na porta, o café adentrava os setores administrativos, e casava perfeitamente com monange - e eu odeio monange-  212 e axe que me puxava pra entrar naquele universo que parecia tão, eu jurava de pé junto, torto e cruzado que seria eterno mas quando fui atraída achando que chegaria e te beijaria e te abraçaria e te diria como dormi bem - já não era mais eu, as pessoas não torciam por nós, não existia mais nós - só a decepção dentro de mim quando você decidiu voar e me deixar entre nós, em um eterno fim.

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