25.3.16

Esse lugar jamais clareia

Vou te escrever, da maneira mais sincera de libertar tudo o que sinto, já que não te digo nada.
E no vazio de minhas palavras não ditas, por medo, desespero, em agonia de retroceder erros e mais uma vez dissipar a oportunidade de perfurar as antigas feridas - você devora e me devora em enchentes de palavras que anseio em não e em ouvir. 
Mas você vem, e quando vem não hesita novamente em me dizer todas essas coisas que são ou não reais; mas abraço todas elas como alguém abraça algo que não vê a muito tempo e sente falta. Eu me afogo, me cubro, me tampo nessa coberta de tuas mãos não delicadas, dessa água que essa mão me joga, dessa toalha que a mesma me seca - desse mar que é teus braços, esses mesmos braços que tocam tão alto essa bateria do meu coração.
E afundo nessa oportunidade que talvez não seja oportuna, mas é o que temos ou o que tenho aqui e agora; quando tu me tiras detrás da porta que esmurra minha face tão apática, tão falsa... forjada dos dias que tenho anseio de ser - para me refazer dentro desse local onde nunca clareia e só nos aprofundamos até o dia passar, e clarear o sol dentro de nós.. Que logo nos queima.
Vou queimando tuas costas com a minha temperatura, teus cabelos cheios de algodão, teu hálito, tuas elevações corporais, teu cheiro impregnante e aquela voz implorando para eu fique alguns minutos, na nossa quase morte quando você repete e repete teus toques, tuas falas, teu fogo durante os dias dessa noite.
E por isso permaneço em silêncio, tentando reter as possibilidades de isso não acabar hoje; como uma orquídea da mais bela em seu final de floração, sobram restos de pétalas, escuras, murchas mas você não quer cortar a haste floral pois o medo de perdê-la é tão real quanto esse local que não clareia.
Você insiste para que eu diga tudo o que se passa nesse set dentro de mim - mas não sou só eu que deito aqui e espero teu sono, teu mar profundo... Que me sacode me balança me mergulhas e me solta assim que me puxa - não me deixa, você não me deixa nem quando eu quero, não me deixe.
"Não parece frágil", você diz... Mas vê os cacos que estão jogados aqui ainda? Sem querer me corto com eles e quero sumir, acender a luz desse local e achar as roupas, os toques, as palavras e as juras - pois eu juro que sairei correndo se for assim pra sempre. 
Já não me permito ser queimada com teu interior, tuas falas em controle que me (des)controlam e torno a ser fantoche de vida própria, que tem liberdade de ir a hora que quiser, pois a porta está aberta. Você não sai mas também não entra e não deixa ninguém entrar. Além de mim?
E mais uma vez, em um momento que não é aqui e nem agora, esmurro a porta contra minha face; aquela mais verdadeira e novamente machucada que abri pra você mas não deveria, só pra deixar a luz entrar e tudo desmoronar, assim te olho - não te decifro, não fico, não permaneço.
Só continuo presente, sem dizer, apenas sinto --- você não sente, mas eu sinto muito.

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