3.4.11

Que me resta? Os restos.

Olá, você.
Acordei tão cedo hoje e estranhei ter levantado com aquela sensação rotineira, porque nunca me levanto. Hoje tanto que quis estar aí, a manhã está tão fresca... Fez muito frio a noite toda, dormi mal demais- quer dizer, quase não dormi realmente. Meus passeios semanais com o cachorro estão se tornando diários, três ou até mais vezes por dia. Quantas desculpas não me faço para novamente pensar em estar aí? Quis tanto, tanto hoje. Talvez porque seja domingo, não há ninguém em casa; não há ninguém nas casas... Aquele silêncio entre os corredores vazios que odeio, volto a repensar nessa palavra tão forte, porque ando odiando tantas coisas.. Não sei se vale a pena dizer que tudo está tão mal assim ou se está realmente mal. Eu, nós sempre dramatizamos tanto nossas cenas que nunca foram tanto assim- acho que já estávamos acostumados mesmo. Talvez, porque eu não tenha paciência nos domingos e esteja serena demais agora, vou percebendo realmente a tua falta porque eu não estou sorrindo nos meus odiados domingos quando você forçava a barra do outro lado da linha, talvez porque não tenha ninguém mais do outro lado. Durmo, logo acordo vezes e vezes entre os poucos sonos para ver, rever o telefone que não há nenhuma ligação perdida ou mensagem que tenha me acordado, o problema é que eu ando acordando sempre sozinha-  ando fazendo tudo sozinha; li tantos livros e reli os mesmos... Ando montando uma estante deles e continuo com o seu aqui, talvez te devolva um dia. Ele e todos os outros estão impregnados de cheiro-de-sono, porque acabo sempre dormindo sobre eles por culpa dos meus fortes medicamentos, a verdade é que durmo mais que vivo- acho que você deve saber; acho que não sabe de nada. Como odeio todas essas variáveis! Se soubesse, preocuparia-se, ou não, talvez simplesmente não se preocupe, como ninguém mais se preocupa. Fiz que todos desistissem de saber o que andou acontecendo, o que anda acontecendo e vezes queria fazer alguma coisa, qualquer coisa, porém não faço nada. Fico deitada na mesma cama, entre odiadas terças e domingos.. E a semana inteira e os meses inteiros, em pedaços - moendo, remoendo esses sentimentos tão pesados e escassos, com o cheiro ainda de escama de dragão que não sai mais de mim. Escondendo esses restos em embrulhos, tantos que já viraram entulho. Fico cansada sempre, com a cabeça pesada de sono- que logo o perco entre minhas perdidas noites. Vejo que sempre perco tudo e só conservo o que me traz angústia, o que me traz cheiros tão destruidores, o que me traz todas as lembranças que deveriam ser moídas. E vejo, claramente que em nenhuma dessas tentativas frustradas consegui trazer algo. Que não conseguirei um dia, em nenhuma dessas tentativas auto-destrutivas trazer você.

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