13.6.14

Além da sua silhueta

Da primeira vez que seu corpo sorriu pra mim, eu guardei a ideia de que talvez, quem o visse sem o conhecer  e sem te conhecer, não gostaria. 
Lembro muito bem que você me deu um aviso prévio que nem você gostava dele ou até mesmo o admirava, falava constantemente que adoraria uma mutação onde, uma nova camada de pele, texturas, de medidas fossem recriadas em você, para fora de você. E eu disse que não precisava porque eu me amarrava na ideia de tê-lo pra mim.
E pra ser sincero, da forma que o vejo hoje não foi da maneira que vi um dia... O porquê disso eu sei bem. Quando seu corpo sorriu para mim, ele não era apenas seu corpo cheio de marcas, ondas, texturas inconfundíveis e dobras negociáveis do seu não-toca-aqui somadas à toda minha não importância para o que você falava... Mas ele tinha seu próprio cheiro, ele dançava pra mim ao som de batidas lentas e suaves que faziam um estrondo louco onde arredores perguntaram, e ainda perguntam o que foi, o que houve. Seu corpo nunca foi só um corpo, ele é cheio de calor e ternura que vem em conjunto do seu sobrenome - ele fala mais que sua própria boca e olhos juntos. Ele tem sua própria maneira de pensar e fazer o que bem entende.
Seu corpo diz não, mas ele diz muitos sins - ele é permissível e maleável, possui sua própria personalidade e sempre que resolvia se fechar e me ignorar parecia que o mundo desaparecia e era necessário sua boca para transmitir o oxigênio que só encontro dentro de você. Da mesma forma que ao dizer sim, minhas mãos bocas pés e todo restante pareciam comandar uma orquestra sinfônica onde violinos, flautas, trombones, pianos, triângulos e oboés não fossem instrumentos suficientes para se comparar a mágica que é sentir as vibrações, sons e pessoas emocionadas que ele sozinho o faz; sem precisar de plateia. 
Porém, você ainda pensa que eu só queria ele, para me aproveitar dessas partes profundas e íntimas que um cara como eu - tímido e difícil de me aproximar - teria um dia na vida a necessidade de experimentar.
E sim, posso te dizer que era isso que eu queria - eu desejei por muito tempo somente isso, sem pretensão alguma de enxergar além do que meus olhos desejavam - pelo medo de não saber o que enfrentar... Mas a partir do momento que percebi que existia alguém transmitindo essas ondas lunáticas, esses suores com cheiro de insegurança e necessidade - quando eu vi que existia alguém para esse corpo tão formoso, alguém que o controla e que decide quando ele diz, quando faz, quando sorri e quando em sintonia com todas essas pintas; cantam. Quando eu descobri que era você que mandava nele, foi onde eu quis você de corpo inteiro. 
Quando seu corpo sorriu pra mim, ele refletiu além da sua silhueta e eu vi que acima dele existiam seus lindos lábios abertos, brilhando de canto a canto aquele sorriso que eu achava que via em seu corpo, mas era você que o comandava.

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