24.4.11

Canecas cheias.

 As esperas eram muito mais virtuosas que as vindas. 
 Faz tempo que você não vem Sophia... Essas enormes ausências me fazem pensar se alguma hora irás desistir de mim, se alguma hora irás desistir de vir. Terei eu, que esperar-te pra sempre? Saibas bem que esperarei. Mais bem que, essas esperas são muito mais gostosas que as vindas - que foram de extrema taquecardia. Porque elas chegavam lentamente.. Agora anda demorando pra chegar, fico esperando amanhecer para contemplar o nascer do sol bem aqui, no nosso corredor com duas canecas de café. Era assim não era? Pelo menos é o que me lembro bem; você aparecia às 5:00 e segurava sua caneca quente para assistir de camarote esse nascer tão divino, um nascer tão único e nosso - visto aos nossos olhos. Então vezes você não vinha mais... Só percebi com o tempo também, porque de qualquer jeito, tua xícara jamais te traiu, ficava à tua espera ao lado de alguém pequeno; meio desajeitado; descuidado e com frio - esperando que viesses para compartilhar uma imensa manta esverdeada, amarelada, encharcada de cor. Não era lindo? Talvez seja mesmo pelo modo que as imagens vão ficando na cuca da gente, especificamente na minha. Mas não sei muito bem se elas são totalmente iguais ao que realmente foram; não sei se você vinha todos os dias e nem se tomava o café todo; se tomava tudo... Não faço idéia. Mas sei que vinha sim. O problema era que, eu encenava tanto suas vindas para que elas ficassem perfeitas com todas as minhas falas e faces treinadas, que não lembro quais foram suas respostas diante ao meu sacrifício todo. Porque talvez eu tenha encenado-as também, compreende? Mas não importa, alguma coisa sempre ficava entre essas vindas. E eu sempre as misturei. 
 Penso que, talvez sejam lições de resistência, para que eu saiba lidar quando não houver volta, para ver se aguento mesmo; pra aprender a aguentar à força. E eu aceitei não achas? Pois é, você sempre controlou-equilibrou demais. Até mesmo a quantidade de café - nunca desobedeci, assim como sempre esperei, só esperei que você chegasse com o café ao seu jeito para que eu preparasse no próximo dia. Ele sempre foi bastante adocicado quando você o saboreava, agora já nem sei a quantia certa porque comprei uma cafeteira. E se quiser pode até brigar mas, eu sempre reclamei o quanto era ruim ir comprar filtro de café; reclamei o quanto era chatíssimo ouvir você falando-por-demais que eu teria de descer qualquer forma para comprá-lo, porque teria que comprar açúcar , já que achavas que eu nunca colocava açúcar nele - pudera Sophia, era adoçante- me desculpe por isso, agora ele não deixa muito doce não, fico precisando de açúcar.... Tenho que descer sempre pra comprar, um saco. Aí, você partia dizendo que voltava e era normal eu entrar para meu apartamento, deitar sobre aquele colchão velho que ficava no chão- onde dormia bastante. Pensando agora, acho que foi burrice minha ter trocado aquele colchão por uma cama nova sabia? Deveria ter deixado-o lá para sempre, continha cheiros importantíssimos dos dias em que você resolvia entrar. Ah quando você entrava Sophia! Não gosto muito de estender essas sensações, acho que tive intenção de me livrar deles por culpa das taquecardias e das sujeiras de café que traziam formigas... Chega, já estou começando a ficar que nem você, então deixa eu chegar logo onde quero Sophia porque eu sempre delongo bastante esse tipo de assunto não é? Não quero falar-por-demais porque começo a medir minhas palavras e se não escrever na euforia - tudo vai sair controladíssimo. Enfim., sobre as esperas? Ah, elas sempre serão melhores que as vindas já que quando você vinha eu tinha receio de iniciar minhas despedidas bem ali, sem que você percebesse. Ou que era uma despedida toda vez que você resolvia entrar, toda vez que me fazia dormir. Acordava sempre pensando: "será que essa última, foi?" Mas agora já não faz muita importância, não durmo mesmo na cama nova. Não durmo mais em nenhum lugar...Vezenquando pelas 5:30, resolvo passar seu café para minha xícara e desfruto do sol que surge, tão meu, sozinho. Tomo mais café que o normal, já que seu vício fazia com que eu lhe desse sempre mais da minha caneca e eu odiava, de verdade - eu odiava compartilhar minha caneca. 
 O sol nasce e mais tarde quando volto a percebê-lo - lá para às 18:00 voltando para o corredor, sinto que já não te espero com tanta necessidade ou precisão entre os nasceres, vou ao corredor porque realmente gosto de observar o início dos dias. Vezenquando também, o dia vai acordando e começo a delirar sobre aquelas conversas que sempre me ensinaram tanto, que nunca abordaram os mesmos assuntos e acabavam sempre tentadas em me deixarem algo. Por causa disso que fui aprendendo muito. Aprendi muitíssimo, aprendi controle; aprendi paz; aprendi a desaprender, só-você-entende não é Sophia? Aí que fico mesmo pensando mesmo que suas longas idas, só ocorreram para me ensinarem algo, porque agora, se você realmente não vir, ficarei bem aqui, onde começa a amanhecer. Desta vez, com uma caneca só.
O sol estará sempre por vir nos próximos dias... 
Mas é claro que o sol, vai voltar amanhã, mais uma vez, eu sei.


De endoidecer gente sã.

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